Entrevista com um personagem ativo na cultura popular literatura de cordel no Brasil

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O trabalho do Portal Tinguis é ventilar notícias a fim de promover para  inspirar a arte e cultura no país. A partir de diálogos com nossos artistas, suas experiências gerando oportunidades de mostrarem suas trajetórias artísticas para seu público. As pessoas sempre desejam conhecer um pouco mais o trabalho e suas obras nesse percurso, sua história e suas opiniões como detentor de uma arte secular.

Conversamos com o poeta Abraão Batista

Abraão é farmacêutico de formação, professor universitário, poeta popular e xilogravurista. 88 anos, o poeta é autor de vários títulos de cordel, ele que é natural de Juazeiro do Norte – CE. Cidade fundada pelo também conterrâneo e um dos maiores biografados na literatura de cordel no Brasil, Padim Padre Cícero que é personagem desta rica manifestação popular. 

Nesta entrevista, Abraão Batista nos fala sobre a feira do livro, suas influências, aconselhamentos, e valorização da cultura popular no Brasil.

O senhor dirigiu 1.817 quilômetros sozinho de Juazeiro do Norte a Brasília? 

Sozinho não! com Deus e pessoas com 88 anos não pode dirigir não é! salientou, tô aqui, vim para a trigésima sétima feira do livro de Brasília por mais um ano, cheguei bem graças a Deus um pouco cansado muito calor afirmou.

Quem é o Abraão Batista?

Olhe só, na verdade não passo de uma alma penada e vivo ai pelo mundo escrevendo poesia, na realidade sou enamorado de Brasília desde o começo, tou aqui com Deus cheio de alegria e felicidade e todo eu venho, desde o tempo de Gervason da Câmara do Livro, e participa há mais de 25 anos.“Abraão Batista é farmacêutico de formação, professor universitário, poeta popular e xilogravurista. Nascido em 4 de abril de 1935 em Juazeiro do Norte, o poeta é autor de mais de 400 títulos de cordel, escreveu seu primeiro folheto motivado pela indignação com a notícia da cassação de 44 santos católicos pelo papa. Assim, nasceu o cordel intitulado Entrevista de um jornalista de Juazeiro do Norte com os 44 santos cassados” 

Você acha que as feiras de livros são importantes para escritores, cordelistas?

As feiras de livros são fundamentais existirem, porém falta apoio por parte do governo principalmente do Distrito Federal e do país que carece apoiar um pouco mais, principalmente os cordelistas tendo em vista os violeiros já possuírem seu espaço que é  Casa do Cantador, e os cordelista dá pena de se ver vendendo os cordelzinhos pendurado na mão, não é pendurado no cordão como dizem os que não sabem a história do cordel.  E que o governo da capital seja qual  for a ideologia política e qual governante ocupa a cadeira, pois o que interessa é o povo, então hoje eu vejo a feira do livro em decadência pela falta de compreensão dos nossos senadores, deputados, vereadores e do governo principalmente do governo do Distrito Federal, que ao meu ver deve prevalecer é a democracia. Se continuarem a não apoiar, a tendência é a Feira do Livro acabar e ficar ainda pior. 

Quais os cordelistas que serviram de referência para a sua arte?

Sabemos que a Literatura de Cordel é uma manifestação popular da qual passei a conhecer pelos clássicos de Leandro Gomes de Barros, João Martins de Ataide, Antonio Ferreira da Cruz e tantos outros cordelistas contemporâneos e são temas de debate no Brasil. Deste modo são importantes para a busca permanente de reconhecimento e ainda para salvaguardar e preservar a cultura popular, pois, ocorrem fenômenos no meio do caminho como o religioso e cultural, a exemplo de Padre Cícero que a igreja está com a fanfarra de reabilitar como Beato da Igreja, salientou que Padim Padre Cícero sempre foi habilitado e está canonizado no coração do povo. No caso do cordel, que são paralelos os dois fenômenos, o cordel precisa necessariamente que o povo desmistifique essa ideia de que o cordel é essa coisa pendurada no cordão, que poderia até ser em Portugal, na França, Bahia e China etc. 

Apoio a Cordelteca?

Até pouco tempo se tratava biblioteca do cordel, então o certo é cordelteca, a de jornal é hemeroteca, de disco é discoteca o menos radicais sabem que nosso idioma é derivado do Grego, deste modo o certo é Cordelteca. Quanto à doação de 100 títulos de minhas obras para 1ª Cordelteca do estado de Goiás, que terá como Patrono o Poeta Piauiense Firmino Teixeira do Amaral na cidade de Luziânia é uma grande alegria pra mim poder contribuir. Se eu pudesse eu doaria toda minha produção literária para todas as cordeltecas do Brasil, pra mim é uma grande satisfação, alegria e honra ajudar e saber que será um ponto de leitura, de disseminação do conhecimento e preservação da memória desta cultura popular nordestina. E vocês João Almir do Cordel e Goári Poeta Gravador e demais membros estão de parabéns pela iniciativa de estruturar esse equipamento de cultura que tanto vai servir a população dessa região, um espaço de cordel e xilogravuras é rico muito rico diz Abraão.

Qual mensagem você deixaria para quem está começando?

Na minha época de criança e adolescente cordel tinha outro nome folheto quando editado com 8 páginas, e  com 16 página é chamado de romance, o vendedor fazia a venda forrando o chão com a toalha, lençol, jornal e pra segurar o vento colocava umas pedrinhas nos cantos, e aqueles com mais recurso levavam uma mesa para expor nas feiras, mais nunca pendurado em cordão. Da mesma forma o grande escritor Ziraldo representa o Saci Pererê com uma perna amputada, não tá certo tendo em vista o Saci Pererê é uma entidade das florestas e tem apenas uma perna, e possui só 3 dedos e sua cor não é preta e sim verde granito, o Saci não usa carapuça vermelha aquilo ali é a plumagem da mata igual a do galo de campina, e o Saci não saí pulando ele desliza. Então para os jovens escritores, cordelistas eu lembro o seguinte: a fantasia e o real eles caminham na mesma plataforma, quando a fantasia é forte ela se torna real, e quando o real é fraco se torna fantasia. Para ser cordel é preciso ter cheiro de povo, fala de povo e olhar de povo, tem que ter a métrica, a rima e o sentido, então os jovens atuais dizem vamos dar uma nova roupagem no cordel isso não existe, é balela afirma o mestre. 

Agradecemos o poeta, cordelista e xilogravador que já quer garantir a participação na 38º Feira do Livro de Brasília em 2024.

Fotos e entrevista: João Almir do Cordel 

joaoalmir23@gmail.com

www.tinguis.com.br

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