Uma estátua da rota turística de Recife, no caso a de Ariano Suassuna foi literalmente derrubada por vândalos, outras esculturas do Circuito da Poesia estão em estado precário.

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Foto: Beto LC
Foto: Portal cidade de Recife

UMA VIOLÊNCIA A CULTURA DO PAÍS SEM PRECEDENTES

No dia em que a escultura do escritor Ariano Suassuna, que fica na Rua da Aurora, no Centro da capital pernambucana, amanheceu no chão, após ser alvo de vandalismo na madrugada desta segunda-feira (21), a reportagem do Jornal do Commercio percorreu todo o Circuito da Poesia do Recife. Com 17 obras em tamanho real assinadas pelo artista plástico Demétrio Albuquerque, o percurso homenageia grandes nomes da música e da literatura, como Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Luiz Gonzaga e Chico Science. Sofrendo com a ação do tempo ou com depredações como o que ocorreu com a de Ariano, algumas esculturas apresentavam rachaduras, pichações, fezes de animais e placas de identificação ilegíveis.

De todas as obras, a do autor paraibano, com 1,80 m e inaugurada em 2017, foi a que apresentou o ato de vandalismo mais brusco. Depois de ser retirada do local por uma equipe da Prefeitura do Recife, ainda na manhã desta segunda-feira, sobrou no lugar da estátua apenas os pés, plantados em frente ao antigo Teatro do Arraial, desde 2004 batizado de Teatro Ariano Suassuna. O comerciante José Ferreira, de 46 anos, vende água e pipoca no semáforo próximo de onde estava a escultura e se surpreendeu ao chegar para trabalhar.

Nos sobrados do Recife, pelas ruas e pontes, nos bares e festas populares, a poesia está sempre presente. A cidade é uma fon9te de grandes poetas, que tornam imortais as emoções que o Recife produz em cada coração. E passeando por alguns pontos turísticos da cidade, você pode encontrar alguns dos mais importantes poetas da história recifense. São esculturas, em tamanho real, de grandes artistas da literatura e da música. Elas compõem o Circuito da Poesia e estão esperando a sua visita.

Foto: Portal cidade de Recife
Foto: Portal cidade de Recife

Antônio Maria (1921/1964)
Poeta, compositor e um dos maiores cronistas brasileiros de sua época. É dele a famosa frase: “Se você me encontrar dormindo, deixe; morto, acorde”. A escultura do artista está na Rua do Bom Jesus, chamada no tempo de ocupação flamenga (1630/1654) “Rua dos Judeus” por abrigar estabelecimentos comerciais judaicos e a Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira das Américas, hoje Centro Cultural Judaico de Pernambuco.

Ascenso Ferreira (1895/1965)
Poeta da primeira geração do Modernismo e autor de obras como “Catimbó”, “Cana Caiana” e “Xenhenhém”, tem sua produção estudada por grandes nomes da crítica e literatura brasileiras. No Cais da Alfândega, como a contemplar o rio Capibaribe, está a escultura do poeta. Ainda na área, o Paço Alfândega, centro de compras, cultura, lazer e gastronomia que funciona em prédio histórico datado de 1732.

Capiba (1904/1997)
Foi um dos maiores compositores que Pernambuco já conheceu. Autor de memoráveis frevos que animam o Carnaval do Recife, está imortalizado às margens do rio Capibaribe, na Rua do Sol, cenário da reta final do monumental desfile carnavalesco do Galo da Madrugada.

Carlos Pena Filho (1928/1960)
Pela delicadeza da sua obra, Gilberto Freyre o comparou a um pintor de palavras. Poeta, jornalista e advogado, faleceu aos 32 anos. A escultura do poeta está na Praça da Independência, espaço comercial do Recife desde o tempo dos holandeses em Pernambuco (1630/1654). Diante da Praça funcionava a sede do mais antigo jornal em circulação na América Latina, o “Diario de Pernambuco”, do qual Carlos Pena Filho foi colaborador.
Chico Science (1966/1997)
Compositor e criador do manguebeat, movimento musical que nasceu no Recife na década de 90 e que mistura ritmos regionais com rock, hip hop, samba-reggae, funk e rap. Sua escultura ocupa um espaço na Rua da Moeda, no Bairro do Recife, polo original dos eventos relacionados ao manguebeat.

Clarice Lispector (1920/1977)
Escritora ucraniana que passou parte de sua infância no Recife, onde aprendeu a amar os livros e ensaiar as suas primeiras incursões pela vida literária. Sua escultura foi colocada na Praça Maciel Pinheiro, cujo entorno revela interessantes atrativos como a Rua da Imperatriz, com seu comércio popular; a Matriz da Boa Vista da Irmandade do Santíssimo Sacramento; o Teatro Parque; e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

João Cabral de Melo Neto (1920/1999)
Um dos maiores poetas brasileiros e autor da antológica obra “Morte e Vida Severina”, é homenageado na Rua da Aurora. João Cabral de Melo Neto foi diplomata, membro da Academia Brasileira de Letras e, por sua atividade literária, recebeu diversos prêmios, a exemplo do Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; e Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro “Crime na Calle Relator” (1988).


O guia de turismo Pedro Morais, de 57 anos, faz o City Tour com os visitantes do Recife pelo menos três vezes por semana. Devido à pandemia do novo coronavírus, passou o período dos últimos seis meses sem ir ao Centro da capital. “Eu não sei agora, mas antes da pandemia algumas das esculturas tinham muitas pichações, não eram tão cuidadas. A de Naná, por exemplo, já chegaram a tirar peças. Faltam alguns cuidados, atenção e conservação”, afirma.


Joaquim Cardozo (1897/1978)

Poeta e engenheiro civil, trabalhou com Oscar Niemeyer em importantes construções de Brasília. Sua obra poética, filiada à segunda geração do Modernismo, tem como temas constantes o Recife e a região Nordeste. É considerado um dos maiores poetas do século XX. A Ponte Maurício de Nassau, situada no local onde existiu a primeira ponte do Brasil, abriga a escultura do Poeta.

Luiz Gonzaga (1912/1989)
Conhecido como “O Rei do Baião”, ganhou fama com músicas que retratam o modo de ser e de viver do nordestino. Sua escultura está situada na Praça Visconde de Mauá, diante da antiga Estação Central do Recife (1888) e da Casa da Cultura de Pernambuco, centro de comercialização artesanal instalado em prédio onde funcionou a antiga Casa de Detenção do Recife.

Manuel Bandeira (1886/1968)
Precursor do movimento Modernista, é homenageado na Rua da Aurora, considerada por Gilberto Freyre “a mais recifense de todas as ruas”. Nesta via, especiais encantos: antigos sobrados e casarões do século XIX, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM, os prédios da Assembleia Legislativa e do tradicional Ginásio Pernambucano, a monumental figura do caranguejo, retratada através da escultura coletiva “Carne da Minha Perna”, uma homenagem ao movimento manguebeat, e o Cais da Aurora.
Em suas obras, Manuel Bandeira abordava temáticas cotidianas e a capital pernambucana foi uma delas, como em Evocação do Recife. Além de poeta, ele foi jornalista, cronista, ensaísta, tradutor, professor de Literatura e membro da Academia Brasileira de Letras.

Mauro Mota (1911/1984)
Jornalista, poeta e ensaísta, autor de obras como “Elegias”, “Imagens do Nordeste” e “Canto ao Meio”. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. A Praça do Sebo, tradicional local de venda de livros raros e usados, recebeu sua escultura.

Solano Trindade (1908/1974)
Poeta, pintor e folclorista foi, segundo Carlos Drummond, o maior poeta negro do Brasil. Também cineasta e teatrólogo, fundou o Teatro Experimental do Negro e o Teatro Popular do Brasil. Sua escultura está no Pátio de São Pedro, um dos mais importantes polos de animação do Recife. Na área, são destaques as edificações do século XVIII, a Concatedral de São Pedro dos Clérigos (1728/1782) e os múltiplos espaços culturais.

ROTA DA POESIA

O Circuito da Poesia é composto pelas seguintes obras: Manuel Bandeira (Rua da Aurora); João Cabral de Melo Neto (Rua da Aurora); Capiba (Rua do Sol); Carlos Pena Filho (Praça do Diário); Clarice Lispector (Praça Maciel Pinheiro); Antônio Maria (Rua do Bom Jesus); Ascenso Ferreira (Cais da Alfândega); Chico Science (Rua da Moeda); Solano Trindade (Pátio de São Pedro); Luiz Gonzaga (Praça Mauá); Mauro Mota (Pátio do Sebo), Joaquim Cardozo (Ponte Maurício de Nassau), Ariano Suassuna (Rua da Aurora); Alberto da Cunha Melo (Parque 13 de Maio), Celina de Holanda (Avenida Beira Rio) e Liêdo Maranhão (Praça Dom Vital).

A região nordeste é um berço cultural do país, e quando pensamos em literatura nomes conhecidos vem em primeiro lugar como o de Jorge Amado, Castro Alves, Juvenal Galeno, Rachel de Queiroz, Ariano Suassuna e muitos outros que deixaram seus legados para história cultural do país e do mundo.

Por João Almir Mendes

Redação

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